Na
noite de sexta-feira (05.08), o jovem Kelvin, estudante de BCT (Bacharelado
Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia) da Universidade Federal do Maranhão,
foi brutalmente assassinado nas dependências do prédio de Ciências Humanas do
Campus Bacanga. Tal crime, com o nível de barbaridade, nunca havia acontecido
antes na Universidade, mas esse não é um caso de violência isolado. Em meio à insegurança
crescente no Campus, esse é mais um reflexo da ausência de uma política efetiva
de segurança dentro e fora da UFMA. Kelvin é mais uma vítima da negligencia da
reitoria e dos governos.
A
violência nos cerca o tempo todo, não estamos seguros em lugar algum. Mas a
situação atual da Ufma aprofunda ainda mais esta sensação de insegurança, na
medida em que a administração superior tem virado as costas ao índice alarmante
de assaltos e roubos que ocorrem cotidianamente nos espaços da Cidade
Universitária, nos arredores, nos ônibus 305 e 311, e etc.
A
“segurança” da Ufma é voltada essencialmente para a proteção do patrimônio e
não das pessoas. A quantidade de profissionais da segurança é insuficiente, no
entanto, o trato muda quando há qualquer movimentação e ação do movimento
estudantil, rapidamente “brotam” seguranças com o único intuito de intimidar e
reprimir.
Estamos
jogados à própria sorte. Em meio a todo esse caos, surgem e se fortalecem
propostas de entrada da PM no Campus. A Reitoria sem nenhum diálogo com a
comunidade acadêmica resolve assinar no dia de ontem (08.08), convênio
com a Secretaria de Estado de
Segurança Pública (SSP/MA), permitindo a atuação da Polícia Militar. Precisamos
compreender o que isto realmente representa; se a militarização da Cidade
Universitária resolve o problema da insegurança, qual o papel histórico que a
PM tem cumprindo? O que está por trás de uma medida como essa na conjuntura de
retrocessos e ataques que estamos vivendo no país? E quais as conseqüências
concretas de tal medida, sobretudo, para a juventude, para os setores oprimidos
e para os movimentos estudantis, sindicais, populares e sociais dentro da Ufma?
As
condições dadas à juventude hoje, junto com o alto índice de desemprego,
produzem uma quantidade enorme de jovens marginalizados, que por não terem outra
perspectiva, muitas vezes se envolvem na criminalidade. A violência é
alimentada pela desigualdade social e pela miséria. A guerra as drogas
aprofunda significativamente os assassinatos dos nossos jovens negros, sobretudo
os que vivem na periferia. E a Polícia Militar, que em nome da proteção, na verdade,
é uma das instituições que mais possui envolvidos no tráfico de drogas, e que mais
mata no país, gerando a guerra nas periferias da cidade. A violência policial
nesse sentido, é legitimada pelo racismo velado do Estado. A PM carrega os
resquícios da ditadura civil-militar, mantendo o caráter essencialmente
repressor para com os movimentos sociais, de assédio moral e sexual, de arbitrariedade
e um longo etc. A história da PM é uma história de autoritarismo, racismo e
repressão.
Nós entendemos que a Universidade precisa cumprir sua função social, mantendo uma relação com as comunidades ao redor do Campus e a população de modo geral e não criminalizando-as. Não é de hoje que reivindicamos essa discussão no Campus. Precisamos de um Projeto de Segurança para a Universidade; da ampliação do efetivo da segurança, através de concurso público e priorizando profissionais mulheres de acordo com a demanda; de um trabalho capacitado com estes profissionais; de iluminação em todos os espaços; e etc. Defendemos a criação de um conselho com representação discente, docente, administrativa, de terceirizados, e comunidade, que discuta, acompanhe, e decida sobre a política de segurança na Cidade Universitária. Para tudo isso, é necessário que haja profundos debates.
Hoje recebemos a noticia do “desvendamento” do
caso, desejamos e exigimos que até o fim das investigações tudo seja devidamente
esclarecido. Estamos irrestritamente solidários com a família e amigos de
Kelvin.
Queremos
também expressar nossa solidariedade com a Organização da atividade da
Juventude Porra Louca, que tem sofrido sucessivos ataques oportunistas e
agressivos nas redes sociais. Há uma tentativa clara de associar a violência
ocorrida com o evento, com o objetivo de desmoralizar politicamente e
criminalizar o movimento, que é também parte da esquerda combativa da Ufma.
Setores da Anel estiveram presentes na atividade, por entender que se colocava como uma alternativa de
combate ao conservadorismo fundamentalista e às idéias racistas, machistas e
lgbtfóbicas difundidas por este. E assim ocorreu, foi uma atividade
democrática, séria, comprometida com os debates políticos. Não aceitaremos que
a Direita reacionária e insensível se utilize do triste acontecimento para
difundir suas idéias desonestas e culpabilizar o movimento estudantil de esquerda
pela falta de segurança na universidade.
Não
compactuamos com nenhum tipo de violência. Queremos mais segurança para as(os)
estudantes, funcionárias(os), terceirizadas(os), pra comunidade, pras(os)
jovens negras(os), lgbt’s, que moram na REUFMA ou que precisam usar o
transporte coletivo pra ir para suas casas. Mas entendemos que a melhor forma
de pensar em uma alternativa democrática e concreta de segurança, sem nos
reduzirmos ao senso comum e às discussões superficiais, é construindo
coletivamente um amplo debate na Universidade, que envolva a juventude,
professores e moradores das comunidades no entorno da Ufma e a sociedade em
geral.
Por
isso, convidamos todas e todos pra construirmos o Debate “SEGURANÇA PÚBLICA E A
UFMA QUE QUEREMOS”.
NENHUMA
VIDA A MENOS!
KELVIN
PRESENTE!
Assinam:
Assembleia Nacional De Estudantes
Livre
C.A. do curso de Geografia da
Ufma/Bacanga. Gestão: ”Por Uma Nova Geografia”.
C.A. do curso de Musica da Ufma/Bacanga.
Gestão: “Composição”.
C.A. do curso de Serviço Social Ufma/ Bacanga. Gestão: “Na Trincheira E Na Poesia”.
C.A. do curso de Serviço Social Ufma/ Bacanga. Gestão: “Na Trincheira E Na Poesia”.
C.A. do curso de LCH/Sociologia
da Ufma/Bacabal. Gestão: ”Resistencia E Luta”.
C.A. do curso de Licenciatura em
Ciências Humanas da Ufma/Imperatriz. Gestão: “Maria Bonita”.
Coletivo Fridas
Programa de Assessoria Jurídica Universitária Popular - PAJUP
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