terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Transgredir o modelo de educação e mobilizar os estudantes junto com travestis e transexuais para lutar contra a transfobia


por Dayana Coelho.



O dia da visibilidade de travestis e transexuais surgiu no dia 29 de janeiro de 2004 quando ativistas transexuais participaram da primeira campanha oficial contra a transfobia. Desde então esse dia tem marcado a agenda dos movimentos LGBTS pois, para além de um dia para dar mais visibilidade a esse setor tão oprimido, é um dia também para fortalecer as lutas contra a discriminação a LGBTs.

De longe travestis e transexuais, juntamente com as mulheres lésbicas, são o principal alvo da homofobia. Isso acontece principalmente por conta do machismo. Vivemos numa sociedade que oprime as mulheres e as subjugam aos homens e aos ditames do seu Estado, onde as mulheres estão relacionadas a atividades delicadas e de cuidado e os homens a atividades fortes e de comando. Tudo que está fora dessa lógica é considerado anormal a ponto de causar repulsa e violência.

Travestis e transexuais transgridem os modelos pré-estabelecidos do que é ser homem e mulher e arriscam ser o que são. Mas muitxs pagam caro por esse risco. A discriminação impede que elxs tenham acesso a direitos básicos como educação, saúde e emprego, além de encontrarem dificuldades até para se organizarem e lutarem por seus direitos, pois muitas vezes são discriminados dentro do movimento estudantil e dos movimentos sociais.

A educação é sempre um campo delicado para travestis e transexuais. Elxs não aparecem nos livros de história e não participam da construção de um conhecimento crítico que reflita e respeite as diferenças. Hoje travestis e transexuais são quase que expulso tacitamente das escolas pelo preconceito. Travestis são hostilizados por colegas de classe, professores e diretores. Além disso, passam grande parte do ano letivo sendo chamados pelos nomes que quase sempre abominam, pois lembram de sua condição de incompatibilidade com o corpo e o mundo em que vivem.

O resultado de tanta discriminação nos espaços de ensino é a condenação desse setor aos piores empregos, que por exigirem menos qualificação, são os que pagam os piores salários e mais exploram, como os telemarketing, atendimento em fast food, salões de beleza, limpeza e serviços gerais. Por piores que sejam essas condições esses TT’s ainda têm sorte, pois a maioria acaba mesmo tendo que se submeter a prostituição para garantir seu sustento.

Muitas vezes o próprio movimento estudantil discrimina travestis e transexuais, secundarizando suas pautas e tratando sua condição como chacota e brincadeira. Nós da ANEL nos orgulhamos de desde nossa fundação tratar como prioritária a pauta da luta contra as opressões. Lutamos por uma educação pública, gratuita e de qualidade que, para nós, só se concretizará juntamente com o fim das opressões tanto nas escolas e nas universidades, como em toda a sociedade.

E para isso o primeiro passo é dar visibilidade a esse setor resgatando, por exemplo, o papel fundamental que travestis e transexuais tiveram na Revolta de Stonewall, onde foram figuras centrais na organização dos LGBTs na luta por seus direitos; além do mais, nessa mesma época, a união do movimento LGBT aos demais movimentos de setores oprimidos (negros, mulheres, ativitas dos movimentos por paz e direitos civis, etc) foi determinante para fortalecer o movimento contra opressões e para a conquista dos primeiro direitos LGBTs; além disso, é necessário dar ênfase as pautas específicas de travestis e transexuais: respeito ao que são, modificação do prenome e utilização do mesmo em escolas, universidades, cursos, hospitais, etc, garantia, pelo SUS, dos processos de transformação do corpo para adequa-los  a sua identidade de gênero, políticas de acesso a emprego, entre outras.

Diante disso, além da visibilidade a esse setor tão brutalmente oprimido, é preciso transgredir o modelo de educação e mobilizar os estudantes junto com travestis e transexuais para lutar contra a transfobia e, ainda mais, por uma sociedade livre de opressões, que respeite as diferenças e trate humanos com a dignidade que merecem.