terça-feira, 9 de agosto de 2016

SEGURANÇA PÚBLICA E A UNIVERSIDADE QUE QUEREMOS


Na noite de sexta-feira (05.08), o jovem Kelvin, estudante de BCT (Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia) da Universidade Federal do Maranhão, foi brutalmente assassinado nas dependências do prédio de Ciências Humanas do Campus Bacanga. Tal crime, com o nível de barbaridade, nunca havia acontecido antes na Universidade, mas esse não é um caso de violência isolado. Em meio à insegurança crescente no Campus, esse é mais um reflexo da ausência de uma política efetiva de segurança dentro e fora da UFMA. Kelvin é mais uma vítima da negligencia da reitoria e dos governos.
A violência nos cerca o tempo todo, não estamos seguros em lugar algum. Mas a situação atual da Ufma aprofunda ainda mais esta sensação de insegurança, na medida em que a administração superior tem virado as costas ao índice alarmante de assaltos e roubos que ocorrem cotidianamente nos espaços da Cidade Universitária, nos arredores, nos ônibus 305 e 311, e etc.
A “segurança” da Ufma é voltada essencialmente para a proteção do patrimônio e não das pessoas. A quantidade de profissionais da segurança é insuficiente, no entanto, o trato muda quando há qualquer movimentação e ação do movimento estudantil, rapidamente “brotam” seguranças com o único intuito de intimidar e reprimir.
Estamos jogados à própria sorte. Em meio a todo esse caos, surgem e se fortalecem propostas de entrada da PM no Campus. A Reitoria sem nenhum diálogo com a comunidade acadêmica resolve assinar no dia de ontem (08.08), convênio com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP/MA), permitindo a atuação da Polícia Militar. Precisamos compreender o que isto realmente representa; se a militarização da Cidade Universitária resolve o problema da insegurança, qual o papel histórico que a PM tem cumprindo? O que está por trás de uma medida como essa na conjuntura de retrocessos e ataques que estamos vivendo no país? E quais as conseqüências concretas de tal medida, sobretudo, para a juventude, para os setores oprimidos e para os movimentos estudantis, sindicais, populares e sociais dentro da Ufma?
As condições dadas à juventude hoje, junto com o alto índice de desemprego, produzem uma quantidade enorme de jovens marginalizados, que por não terem outra perspectiva, muitas vezes se envolvem na criminalidade. A violência é alimentada pela desigualdade social e pela miséria. A guerra as drogas aprofunda significativamente os assassinatos dos nossos jovens negros, sobretudo os que vivem na periferia. E a Polícia Militar, que em nome da proteção, na verdade, é uma das instituições que mais possui envolvidos no tráfico de drogas, e que mais mata no país, gerando a guerra nas periferias da cidade. A violência policial nesse sentido, é legitimada pelo racismo velado do Estado. A PM carrega os resquícios da ditadura civil-militar, mantendo o caráter essencialmente repressor para com os movimentos sociais, de assédio moral e sexual, de arbitrariedade e um longo etc. A história da PM é uma história de autoritarismo, racismo e repressão.


         Nós entendemos que a Universidade precisa cumprir sua função social, mantendo uma relação com as comunidades ao redor do Campus e a população de modo geral e não criminalizando-as. Não é de hoje que reivindicamos essa discussão no Campus. Precisamos de um Projeto de Segurança para a Universidade; da ampliação do efetivo da segurança, através de concurso público e priorizando profissionais mulheres de acordo com a demanda; de um trabalho capacitado com estes profissionais; de iluminação em todos os espaços; e etc. Defendemos a criação de um conselho com representação discente, docente, administrativa, de terceirizados, e comunidade, que discuta, acompanhe, e decida sobre a política de segurança na Cidade Universitária. Para tudo isso, é necessário que haja profundos debates.
 Hoje recebemos a noticia do “desvendamento” do caso, desejamos e exigimos que até o fim das investigações tudo seja devidamente esclarecido. Estamos irrestritamente solidários com a família e amigos de Kelvin.
Queremos também expressar nossa solidariedade com a Organização da atividade da Juventude Porra Louca, que tem sofrido sucessivos ataques oportunistas e agressivos nas redes sociais. Há uma tentativa clara de associar a violência ocorrida com o evento, com o objetivo de desmoralizar politicamente e criminalizar o movimento, que é também parte da esquerda combativa da Ufma.
Setores da Anel estiveram presentes na atividade, por entender que se colocava como uma alternativa de combate ao conservadorismo fundamentalista e às idéias racistas, machistas e lgbtfóbicas difundidas por este. E assim ocorreu, foi uma atividade democrática, séria, comprometida com os debates políticos. Não aceitaremos que a Direita reacionária e insensível se utilize do triste acontecimento para difundir suas idéias desonestas e culpabilizar o movimento estudantil de esquerda pela falta de segurança na universidade.
Não compactuamos com nenhum tipo de violência. Queremos mais segurança para as(os) estudantes, funcionárias(os), terceirizadas(os), pra comunidade, pras(os) jovens negras(os), lgbt’s, que moram na REUFMA ou que precisam usar o transporte coletivo pra ir para suas casas. Mas entendemos que a melhor forma de pensar em uma alternativa democrática e concreta de segurança, sem nos reduzirmos ao senso comum e às discussões superficiais, é construindo coletivamente um amplo debate na Universidade, que envolva a juventude, professores e moradores das comunidades no entorno da Ufma e a sociedade em geral.
Por isso, convidamos todas e todos pra construirmos o Debate “SEGURANÇA PÚBLICA E A UFMA QUE QUEREMOS”.
NENHUMA VIDA A MENOS!
KELVIN PRESENTE!


Assinam:

Assembleia Nacional De Estudantes Livre
C.A. do curso de Geografia da Ufma/Bacanga. Gestão: ”Por Uma Nova Geografia”.
C.A. do curso de Musica da Ufma/Bacanga. Gestão: “Composição”.
C.A. do curso de Serviço Social Ufma/ Bacanga. Gestão: “Na Trincheira E Na Poesia”.
C.A. do curso de LCH/Sociologia da Ufma/Bacabal. Gestão: ”Resistencia E Luta”.
C.A. do curso de Licenciatura em Ciências Humanas da Ufma/Imperatriz. Gestão: “Maria Bonita”. 
Coletivo Fridas
Programa de Assessoria Jurídica Universitária Popular - PAJUP




Nenhum comentário:

Postar um comentário