Por Micael Carvalho, da Executiva Nacional da Anel
A cidade de São Luís é hoje, uma
capital marcada por congestionamentos, ruas esburacadas e nenhum planejamento
de mobilidade urbana para a população. Diariamente, os usuários do transporte coletivo
perdem horas e horas do seu dia no trajeto casa de casa-trabalho-escola/faculdade-casa,
ou simplesmente para uma locomoção para acessar a outros direitos como saúde,
esporte, lazer.
O que acontece hoje no transporte
coletivo, é reflexo da política de privatização do transporte público, que
deveria ser gratuito e de qualidade. Infelizmente, esse anseio passa longe de
ser atendido pelos governantes. A entrega desse serviço tão essencial para a
população se reverteu no que acontece hoje nas grandes cidades do Brasil:
monopólios de empresas, sucateamento dos veículos (ônibus mal conservados e com
grande tempo de uso), parcerias com as prefeituras transferindo o dinheiro
público para iniciativa privada, contas e planilhas escondidas e abafada que
acontece nesse setor.
Greve dos rodoviários e o papel da juventude
Não é de hoje que vemos a
mobilização dos trabalhadores do transporte público em São Luís. Ano passado, a
categoria realizou inúmeras paralisações reivindicando segurança, tendo em
vista o alto número de assaltos nos coletivos da cidade.
Desde o dia 22/05 (última quinta
feira), a categoria resolveu cruzar os braços e frear os ataques que recebem
direta e indiretamente tanto dos empresários quanto da prefeitura. A priori, a paralisação foi apenas de uma
parte da frota, ao sair a liminar da “Justiça do Trabalho”, que obrigava
circular 70% de sua frota. Se houvesse descumprimento, o sindicato pagaria R$ 4
mil
reais por hora. Quinta, sexta, sábado, domingo e segunda a frota funcionou
reduzida. Mas pelo andar das negociações, a categoria resolveu paralisar a
partir da terça-feira (27/05) 100% a circulação de ônibus na cidade.
Os rodoviários recebem um salário
precário para cumprir um serviço tão importante para a garantia de um direito
fundamental a todos: o direito à cidade. Além da defasagem do salário, os
trabalhadores são obrigados a arcar com os prejuízos da frota, caso seja alvo
de assaltos ou batidas. Um absurdo para quem já recebe pouco, não tem segurança
mínima no serviço e ainda tira do bolso se, por exemplo, um pneu furar ou ficar
careca.
Inicialmente, os rodoviários
reivindicavam 16% de aumento salarial. Na audiência de conciliação dessa
quarta-feira (28), os representantes do Sindicato dos Trabalhadores em
Transporte Rodoviário do Maranhão (Sttrema) apresentaram uma nova proposta,
reduzindo o percentual de reajuste para 11%. Os trabalhadores também aceitaram
abrir mão da exigência de redução da jornada de trabalho de sete horas e 20
minutos para seis horas diárias, mas mantiveram outros itens da pauta, como 40%
de reajuste do tíquete-alimentação, inclusão de mais um dependente no plano de
saúde, implantação do plano odontológico e seguro de vida.
Mas essas situações não ouvimos
na rádio e nem assistimos na TV. A imprensa burguesa cumpre um funesto papel de
criminalizar a luta, colocar o povo contra a greve e apenas mostrar as
“consequências” ao invés das causas da paralisação.
É preciso nos solidarizar
incondicionalmente com a luta da categoria. Não fazer coro com a mídia e com
posicionamentos retrógrados de que a greve “prejudica” a população. O que
devemos analisar e refletir é que, nós usuários do transporte público junto com
os motoristas, cobradores e ficais (que também convivem com a situação) é que
somos prejudicados cotidianamente pela falta de um transporte público decente,
e mobilidade urbana na cidade.
Devemos além de apoiar as
reivindicações salariais e de condições de trabalho da categoria, estar
preparados para as próximas lutas em defesa de um transporte público de
qualidade. E se a ganância dos empresários quiser aumentar a tarifa ou retirar
a domingueira, precisaremos tomar as ruas e mostrar nossa força.
Se a passagem aumentar, a ilha vai parar!
Desde o inicio da greve, o
Sindicato dos Empresários do Transporte (SET) tenta a qualquer custo convencer
que não há acordo com os rodoviários devido ao prejuízo que a empresa tem.
Afirmam constantemente que não lucram com o serviço, possuem déficit nas
contas, e por isso necessitariam aumentar o valor da tarifa para assim, prestar
um melhor serviço aos usuários.
Porém, o que vemos é o mesmo
discurso de sempre. Aumentam a tarifa e o serviço fica ainda mais precário.
Ainda assim, não tem sequer uma transparência de suas planilhas e sem nenhuma
predisposição para uma submissão de uma auditoria interna nas suas contas.
Ano passado foi aprovado a Medida
Provisória 627/2013, que reduz a zero o PIS/PASEP
e à Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS (impostos
que as empresas tinham que pagar às prefeituras). Na prática, como as empresas
não pagariam mais essas “contribuições”, deveriam então reduzir o valo da
tarifa. No entanto, a tarifa continuou R$ 2,10 e com um adicional: a prefeitura
repassando cerca de R$ 2 milhões para as empresas. Uma demonstração explícita
da relação que existe de dependência entre a prefeitura e as empresas.
Portanto,
que os empresários e governantes fiquem atentos, se aumentar a passagem vão ter
que lhe dar com muitas manifestações, porque se depender da juventude e dos trabalhadores
organizados, nenhum aumento passará, nem que para isso precisemos parar a ilha.
Queremos mais: Passe Livre já, Brasil!
Desde as grandes manifestações
que tomaram as ruas em junho do ano passado, a juventude saiu às ruas na defesa
de um transporte público de qualidade.
Nas ruas, foi retomada novamente
uma pauta histórica do movimento estudantil: o Passe Livre. Queremos a
gratuidades no transporte coletivo para estudantes e desempregados. O passe
livre ao contrário do que muitos pensam, já é realidade em algumas cidades do
país, embora com muitas limitações. Precisamos retomar uma das bandeiras que
levou a inúmeros jovens a ocupar várias Câmaras municipais em agosto do ano
passado.
O Passe Livre que defendemos é um
primeiro passo rumo à tarifa zero e estatização do transporte público,
controlado pelos trabalhadores. Mais do que nunca, agora é a hora de unificar
as lutas da categoria com a luta dos jovens por uma vida sem catracas!
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